Modernização do Estádio Pacaembu

Ficha Técnica

Local: São Paulo/SP
Cliente: Progen Projetos e Gerenciamento
Segmento de obra: Esporte e Cultura
Projeto arquitetônico: Sol Camacho
Projeto estrutural: José Martins Laginha Neto
Conclusão da estrutura: Janeiro/2024
Volume de concreto (m³): 8.881
Elementos de concreto pré-fabricado: pilares, vigas, sapatas, vigas tipo jacaré, lajes, escadas e degraus de arquibancada (especiais)

Localizado no coração da cidade de São Paulo, o Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho, popularmente conhecido Estádio Pacaembu, teve sua inauguração nos anos 1940. À época, foi considerado o estádio mais moderno da América do Sul. Com capacidade para receber 70.000 torcedores, o estádio hoje abriga também o Museu do Futebol, inaugurado em 2008, onde exposições, artefatos e experiências imersivas contam a história do futebol brasileiro e mundial, de grandes jogadores e das Copas do Mundo.

Em 2023, o estádio passou por uma modernização. José Laginha, engenheiro civil responsável pelo projeto estrutural da obra, explica que, considerando o fato de o estádio ser um patrimônio histórico tombado, o primeiro grande desafio envolveu manter a geometria do estádio, que era dividida entre arquibancada e a área de uso geral, envolvendo o campo e as áreas de circulação; e retirar parte da arquibancada para possibilitar a construção do Museu do Futebol.

Para a produção dos degraus das arquibancadas novas, na mesma região onde hoje fica o museu, foi utilizado um concreto de FCK de 50 MPa e também um cristalizante para garantir a impermeabilidade das peças, explica o engenheiro. “As peças eram de espessura até de 11 cm e com isso a gente conseguiu que não houvesse vazamento através de fissuras nos degraus”, acrescenta.

No restante das arquibancadas, foi feita uma contenção, a leste e a oeste, e elas foram substituídas por uma estrutura pré-moldada para facilitar o uso e acesso à parte inferior do estádio, onde ficam os vomitórios, as áreas de circulação do estádio o os espaços que são utilizados para eventos, locação e uso geral. As estruturas pré-fabricadas consistem em pórticos que têm a altura de cerca de 7,5 metros e também degraus pré-moldados. “Eles foram apoiados sobre os pórticos e estruturas de vomitórios em níveis intermediários, permitindo o acesso a sanitários, lanchonetes e assim por diante”, detalha.

Sobre a especificidade da geometria do estádio e a necessidade legal de manter a modernização dentro desses moldes, José Laginha esclarece que a arquibancada não era reta. A posição do talude se conformava ao próprio terreno onde estavam posicionadas as arquibancadas. Os degraus eram, dessa forma, sinuosos, e o grande problema envolveu adequar essa sinuosidade a uma estrutura pré-moldada. Nas palavras do engenheiro, “isso implicou que cada pórtico, composto geralmente por três vigas tipo jacarés, fosse diferente um do outro” ou seja, foram “quase 130 peças completamente diferentes uma da outra”. O mesmo se deu com os degraus: foram cerca de 400 tipos diferentes de degraus.

A estrutura impressiona. Na enorme área subterrânea que foi construída a partir da modernização, foi feita uma escavação de 18 metros para implantação do centro de eventos e convenções e dos pavimentos que compõem toda a estrutura de apoio a ele, incluindo uma área de hotel e clínica. “Toda essa parte enterrada foi feita em pré-moldado”, conta José Laginha. Assim, embaixo das arquibancadas, há uma estrutura de 130 metros de comprimento por vãos de 16 metros onde podem ser realizados eventos sem qualquer tipo de interferência. O mesmo se dá para o edifício principal, onde antes era localizado o tobogã, onde ficará o centro de convenções. “O vão principal foi vencido com uma treliça metálica, mas todo com lajes, tipo alveolar, fechando esse espaço e permitindo fazer eventos sem perturbar a vizinhança”, destaca o engenheiro.

“Um dos grandes desafios também foi a questão de logística de montagem com pilares inteiros sem emendas e, nesse ponto, a Cassol foi a única que ofereceu fazer o pilar sem emenda, o que simplificou muito depois para montar”, acrescenta. A industrialização da obra, na avaliação do engenheiro, foi importante para garantir uma execução veloz das etapas e um sequenciamento de montagem mais estruturado.

O projeto como um todo foi desenvolvido em BIM, o que facilitou para a definição das geometrias, conflitos e peças. Todas as peças também foram projetadas com BIM e, no caso específico das arquibancadas, “todo o detalhamento das armações em função da grande tipologia de peças, foram todas desenvolvidas as armações no BIM. Com isso, a gente conseguiu resolver grande parte de conflitos de armação que seriam quase impossíveis de fazer em uma verificação manual”, ele acrescenta. Além do BIM, outra tecnologia utilizada foi a da “teoria dos campos de tensões” para o dimensionamento das vigas jacarés, que ficam expostas a todo tipo de esforço: esforços axiais, cortantes e momentos fletores.

No balanço final, José Laginha considera a manutenção da geometria do estádio o aspecto mais interessante e significativo do projeto e da obra como um todo. “Quem viu a obra antes e depois, agora, com essa implementação do estádio, não vai nem perceber a diferença”, observa.